Saudade tem de carrada
Lembrança tem de montão
Tristeza tem de manada
Nos pastos da solidão
A morte aqui é plantada
Tem muita alma penada
Habitando este sertão
Tem vezes que a fome é tanta
O mais valente não aguenta
Toda essa falta de janta
Sob um calor de quarenta
Seca a goela e a garganta
Dá uma fraqueza tão santa
Uma lerdeza jumenta
Quem vive neste sertão
Quando morrer vai pro céu
Aqui não tem um cristão
Vivendo de vinho e mel
Come é da falta do pão
Bebe é da sede do cão
Morre quem ganha um troféu
Mas cedo ou tarde esse povo
Suportador dessa agrura
Mesmo na falta de ovo
Na escassez da rapadura
Cedo ou tarde acusa o estorvo
E vota bem pra ter de novo
Felicidade e fartura