Tinha uma besta ruana, pus o nome de princesa
Outra igual não existia cem léguas na redondeza
Eu no lombo da ruana já fiz mais de mil proezas
Minha besta marchadeira era mesmo uma beleza!
Eu tratava da ruana com toda a delicadeza
Se estourava uma boiada eu juntava na certeza
Atravessava o Rio Pardo sem medo da correnteza
Essa besta marchadeira, ligeira por natureza
Um dia chegou a desgraça no atalho da represa
Cai numa pirambeira a ruana ficou presa
A besta quis levantar, mas lhe faltou a firmeza
E quebrou as duas pernas e acabou minha princesa
Passei a mão na garrucha, apontei com bem firmeza
A ruana relinchou como em jeito de defesa
Vi as lágrimas correr, aí do olho da princesa
Matei ela com dois tiros, depois chorei de tristeza
Abri uma sepultura, enterrei minha princesa
Fiz uma cruz de pau d'alho, deixei quatro vela acesa
Na cruz eu fiz um letreiro, escrevi com bem clareza
Matei pra não vê sofrer a minha saudosa Princesa!