Na rua 14 havia um relógio
Um relógio alto como uma torre
Amarelo como uma fotografia antiga
Era um relógio de grande utilidade
As pessoas sabiam se estavam atrasadas
E sentiam o escorrer dos minutos
No natal, virava presépio
O menino Jesus de olhos de vidro
Separado do público por grossas cordas
No carnaval, virava pagão
Um rei momo gordo
Pendurado pelas bochechas
Chamava para a folia
Para os bailes de máscara
Para as orgias do esquecimento
E depois, era um relógio solene
Em que se podia marcar um encontro
Nas tardes mais azuis
Quem tirou o relógio da 14?
Parece que foi sonho
A gente era criança
Veio um ser de outro planeta
E com mãos gigantescas
Arrancou o relógio
A cidade amanheceu sem relógio
O tempo galopando nas esquinas
Crescemos de repente
Sem marcas de ferro nas lembranças
Sem o apoio dos ponteiros
Soltos no espaço
Senhores contemporâneos
Amigos de infância
Passageiros desta terra
Devo lhes confessar o que descobri