Cama, alarme, cansaço
O homem se levanta
Banho, aglomerado, atraso
Bate o cartão e avança
Marcha, máquinas, relógio
Ele recorta peças ao acaso
Tédio, leveza, ódio
Permanece o dia calado
Noite, ponto, cansaço
O homem se despede
Máquinas, aço, pedaço
Mais um dia se repete
Cachaça, sorriso, partido
O ar surge e é breve
Contas, dinheiro, alívio
Ele se recorda da greve
Quarto, mulher, solidão
Ele toma mais um trago
Sexo, raiva, redenção
Pagamento sem abraço
Cor, raça, massa
O morto se levanta e parte
Senzala, sinhô, chibata
As feridas continuam na carne
Trabalho, alienado, segmentado
Por nós todos praticado
Desgosto, repetido, parado
Até os dentes desarmados
Metade, almoço, salário
O relógio é o ritmo da produção
Guerra, luta, atraso
Rezas prometem solução
Atraso, avanço, explosão
A marcha segue nas ruas
Invasão, tanques, confusão
O homem vai pra labuta
Indústria, objeto, automático
A beleza ofusca sua função
Inerte, fatal, estático
O outro é mera distração
História, amnésia, matéria
Recorda do passado
Esquecida, feliz, espera
O homem sempre apressado
Mercadoria, amorfa, particular
Valores em massa vendidos
Corpo, tendência, subliminar
Controle da vida por estímulos
Dia, trabalho, alimentar
Voltemos ao dia do homem
Afeto, metal, exterminar
Ele pensa sempre na sorte
Anos, recompensa, fim
A fábrica produz todas as peças
Pagamento, volta, enfim
A família reunida o espera
Descanso, fim, distração
O acaso da sua produção
Encontrou sua função
Em uma enorme explosão
Com um poder destruidor
Na cama do seu criador
Repousou a bomba que ele criou
Sem saber como um golpe traidor