num verão quando eu era mais moço
e carregava no bolso, além de uns trocos, sua foto
que me sorria de um jeito estranho
eu ainda não tinha tamanho para suportar a dor
talvez eu fingisse não me importar
talvez eu fugisse pra outro lugar
onde eu não ouvisse minha voz sempre a gritar:
"vou ver Maria,vou ver Maria,vou ver Maria"
quem sabe um dia ela possa ouvir
meu coração - que só vivia - a contragosto
só maltratava minhas noites de solidão
minha coleção de desconsolos,
que entra noite e sai dia sem solução
embora eu tentasse me distrair
eu sempre voltava a me repetir
entre atropelos, seguindo sem dormir
pra ver Maria,pra ver Maria,pra ver Maria
e minha melodia então refletir
eu que era desimportante, me achava tão diferente
nos meus dias de antigamente, minhas noites eram de cão
triste verão, ainda trago no rosto
além do desconforto, uma lembrança de amor
meus doze anos e outros desgostos
servem de lenitivo pra minha dor
talvez ainda hoje eu tente esquecer
talvez ainda sofra por não dizer
quando vou ao espelho e sufoco pra esconder
"vou ver Maria, vou ver Maria, vou ver Maria"
e minha poesia vai reluzir
ah, ver Maria,ah,ver Maria
quem sabe um dia pra minha alegria e eu possa rir