Vambora, companheiro, não te escora
Que já tá chegada a hora
Da gente arribar
(Meu balão vai voar)
Amigo, desarrocha o bandolim
Quase igual notícia ruim
Vamos viajar
(Meu balão vai voar)
Nós temos que partir urgentemente
Até a sombra da gente
Tem de acompanhar
(Meu balão vai voar)
Vambora olhar pra frente, o dia é claro
Depois que eu saio, eu não paro
Nem pro trem passar
(Meu balão vai voar)
Quem tem motor de arranque não se espanta
Depois que sai não adianta
Querer desligar
(Meu balão vai voar)
Quem vive de partir não parte a pulso
Espera somente o impulso
Pra desembestar
(Meu balão vai voar)
Se pula história, tampa, arranque o selo
Que ainda tem muito novelo
Pra desenrolar
(Meu balão vai voar)
Se liga que eu tô só te dando o toque
Que a borracha do badoque
Já tá pra torar
(Meu balão vai voar)
O tempo vai na frente, nem espera
E eu já nem sou quem eu era
Nem deu pra notar
(Meu balão vai voar)
O nômade romeiro peregrino
Um cigano clandestino
Que despreza o lar
(Meu balão vai voar)
Sonâmbulo retirante vagabundo
Arremessa os pés no mundo
Pra ver calejar
(Meu balão vai voar)
‒ Ei!
‒ Oi!
‒ Ei, rapá!
‒ Oi, rapaz, fala!
‒ Vumbora...
‒ Pra onde?
‒ Vumbora, home!
‒ Pra onde, rapaz, a gente vai pra onde?
‒ Eita! Uhul!
‒ Tá bonito demais, rapaz! Vamo! Vamo de novo, vamo, de novo!
‒ Eita couro!
A bala prateada esconde o brilho
Como quem diz pro gatilho
“Vem me disparar!”
(Meu balão vai voar)
A folha carregada pelo vento
Não desperdiça o momento
Faz balé no ar
(Meu balão vai voar)
E a bolha se desprega do sabão
Flutuando sem noção
Que vai pipocar
(Meu balão vai voar)
O rosto na fumaça desenhado
Com um cigarro abandonado
Na mesa de um bar
(Meu balão vai voar)
O sonho quase quase terminava
Mas o cabra que sonhava
Teve de acordar
(Meu balão vai voar)