Estou a ser enterrado
Acompanhado pela solidão
O ar está pesado
E bate a chuva no caixão
São poucos mas comovidos
Os presentes choram e estão
Atentamente a ouvir
O padre a rezar a oração
Choram a minha perda
Mas digo que choram em vão
Eles podem-me sempre recordar
Ao ouvir esta canção
O morrer de uma pessoa
É mentira no coração
Pode morrer fisicamente
Mas fica sempre a recordação
Recordem-se de mim
Com alegria é o que peço
Chorem de saudade não de tristeza
Eu já não tenho regresso
Quando estiverem a ouvir isto
Eu já estarei a partir
Não sei pra onde vou
Mas preferia que fosse a subir
Mas com tanto pecado
Duvido que viaje de balão
O inferno do diabo
É onde eu axo que estão
Aqueles parecidos comigo
Que pecaram tanto como eu
"O Puto Silva era tão novo"
"Pois era, e já morreu"
Neste momento recomeça
A trovoada penetrante
O padre faz sinal
Para que o coro cante
E cantam afinados
Em homenamem ao meu amor
Enquanto o caixão desce
E começam a atirar flores
O meu caixão acenta
E de seguida atiram terra
No cemitério á beira-mar
Onde já se vê bem a serra
Chuva e terra misturam-se
E agora a terra é lama
O padre benze-me outra vez
Esta vai ser a minha cama
Onde vou dormir
descançar o sono divinal
Os pais explicam aos filhos
Que morrer é natural
Que faz parte da vida
Um dia também morrer
O meu funeral acaba
E começam todos a desaparecer
As vidas continuam
Mesmo depois da minha morte
Não se podem prender
Voces merecem melhor sorte
E fico ali sozinho
O silencio é a minha canção
Estamos só eu, a chuva
O meu caixão e a solidão