Trovador Negro
(Negro de sorriso claro, como sinuelo de pampa,
Que sintetizas na estampa longínquas reminiscências
Negro que lembras dolências de alegrias e tristezas
Que andaram nas correntezas dos rios de muitas querências)
Essa cordeona que abraças com ciumenta intimidade
Traduz na sonoridade, quando teus dedos passeiam
Madrugadas que clareiam, campos pelechando em flor
Chinocas pedindo amor e potros que corcoveiam
E quando a cordeona espichas aberta como prá um pialo
E o verso sai de a cavalo, sobre a cadência da nota
Tua mirada remota se perde coxilha acima
Como quem busca uma rima sem saber donde ela brota
(Tu sim, és poeta e o mundo, prá ti se torna pequeno
E nem mil poetas moreno, expoentes de Academia
Campereando noite e dia, o vocabulário gasto
Podem dar cheiro de pasto como tu dás à poesia)
Negro de sorriso aberto como clarão de alvorada
Abre essa gaita aporreada, e canta a mais não poder
Canta negro até morrer, com força de mil gargantas
Pois cantando como cantas ninguém te iguala em saber.