O dia imitando a noite num relâmpago dispara
E o sol escondendo a cara prenunciando o temporal
O vento curvando galhos os ramos que se entrelaçam
As roupas que se abraçam retossando no varal
O gato meio assustado vem em busca de aconchego
O cusco ronda os pelêgos fugindo da chuva fria
Lambendo a taipa do açude a água crespa se agita
E o vestido da Chinica teimando com a ventania
O peão campeiro maldizendo o vento
Golpeando as nuvens por momento esquece
Que o campo morto com o temporal
Renova a vida quando o sol aquece
Vendo a fartura após o tempo feio
Dobrando os joelhos ao céu agradece
Pedindo à Deus que amenize a fúria
Dos temporais que a vida oferece
O potro coiceando a poeira, para no deno solito
A leitoada vem aos gritos, pra campear seu agasalho
Um guacho preso na cerca, se enforcando na cangalha
Enquanto o vento atrapalha, as labaredas do borralho
Frutas e folhas despencam, forrando o chão do arvoredo
A mansidão do varzedo se rende após a tormenta
Revidar esse mandado, é uma peleia no escuro
E em meio a tanto apuro qualquer cristão se lamenta