Tambor está velho de gritar
Oh velho Deus dos homens
Deixa-me ser tambor
Corpo e alma só tambor
Só tambor gritando na noite
Quente dos trópicos
Nem flor nascida no mato do desespero
Nem rio correndo para o mar do desespero
Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero
Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero
Nem nada!
Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra
Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra
Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra
Eu
Só tambor rebentando o silêncio amargo da mafalala
Só tambor velho de sentar no batuque da minha terra
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida
Oh velho Deus dos homens
Eu quero ser tambor
E nem rio
E nem flor
E nem zagaia por enquanto
E nem mesmo poesia
Só tambor ecoando como a
Canção da força e da vida
Só tambor noite e dia
Dia e noite só tambor
Até à consumação da grande
Festa do batuque!
Oh velho Deus dos homens
Deixa-me ser tambor
Só tambor!