Essa que dança na roda
Em volta dessa fogueira
Tem o rosto afogueado
Do calor da brincadeira
Essa que assiste a outra
Convive passivamente
Conhece todo perigo
E a dor sobrevivente
Essa que brinca com fogo
Com jeito de feiticeira
Desconhecendo o perigo, tem a alma prisioneira
Dança, e também faz dança
A sombra presa no chão
Esquece o entendimento, esquece toda a razão
Essa que não fala nada
Essa que nunca protesta
Sabe de nada adianta e jamais se manifesta
Essa mulher estrangeira
Mistério contraditório
Não sabe o discernimento
Entre o real e o ilusório
Vivendo sem estribeira, vivendo sem compensão
No levantar da poeira, embaralha minha visão
Dança, e também faz dança
A sombra presa no chão
Esquece o entendimento, esquece toda a razão
Essa que dança na roda
Que olha através do espelho
Desprezando o adversário
Ignorando conselhos
Pisando na própria sombra
Contrariando a corrente
Sempre confrontando a outra
Numa guerra indiferente
Dança, e também faz dança
A sombra presa no chão
Esquece o entendimento, esquece toda a razão