Beleza pura
Pura macumba
Macumba prima
Nêgo mandinga
Malando chêguié cum ginga
Nêgo suínga, suínga
Na banqueta si assenta
P'ouvi falá das digina
Vários traço, tenho raça, sô negaça, mandingo
Pardo é nêgo, meu amigo
Pu favô mais juízo
Hoje eu falo abertamente
Mas antigamente
Ninguém pudia falá
Te hoje os mais veio
Insiste em num dá um á
Tô cum meu vô no sofá
Históri'eu queriscutá
Minha vó quieta pa lá
Quié nêga véia, cê liga?
Das qui num gosta de toca nas ferida
Trazê pa hoje o passado
Vovó, quero meu legado
As coisa que Deus te deu
As coisa que Deus levô
Eu quero que meus netos saibam quem que minha vó foi
Das lutas individuais de meus avós, meus heróis
Represento a glória como cada um de nós
É da fartura, de repente, a seca
Um tabefe seco que logo tonteia
Pois a vida nué tão bela
Quem pudé enxergá que veja:
Só amor pelos costumes
Pelo papo vem a prosa
Só amor pela digina
Chêra cravo, chêra rosa
Só amor pela origem
Pelos calos, pela roça
Só amor pelos antigos
Cavalo, gado, arado e carroça
Deixano tudo pa trás dipindirad’um paudiárara
Fugino da seca pos canto onde cai água
Desce a ribancêra desse imenso país
Tola na terra mista, onde semente é raíz
Vermêia areia seca, mas si móia, arria as traia
Um lugá pa durmi: o memo onde trabáia
Pai de famía num perreio
Sem dinhêro
Mas se tem profissão
Pode crê, nobre pedrêro
Moranuma famía: um barraco de ferramenta
Dividin'espaço cuns saco de cimento
Quantas vez o bucho em ronco por mais de sete dia
Se passasse só três mano meu, era fichinha
A criança faminta que perambula na praça
Já que não tem cumida enche o buché de água
E os milagre que Deus fez
Só quem viveu pá contá
As criança de hoje em dia
Até se esquece de rezá
Cumida na mesa
Cabicêr'onde deita
O armário lotado
Qui ôtos tempo era puêra
Dinhêro pa cumê
Nem isso nas casa chegava
É, tudo faltava
Só coragi quiera tudo e para o mundo siávuáva
Nada eu vô temê por que meu Deus é comigo
Só um tramp'ium abrigo meu mano, é o que preciso
Uma mala na mão e um pacote nas costa
É pá trabaiá nêgo, que a mesa num tá posta
E se na garrafa da cachaça afoga as mágoa
Ô saudade do sertão
É que dero a cuié de pedrêro
Na mão de quem sempre
Sempre mereceu só um violão
Guerreô
Da terra da seca partira muié mais homi
Guerreô
Na terra de areia onde escrevera seu nome
Guerreô
Na terra vermêia onde matara sua fome