Quando me sinto milonga
Minha alma aponta pras coisas
Todas que enfeitam canteiros
E sigo a troco de nada
Cantando, dando risada
Desta comédia de arteiros...
Ando com um pouco de pressa
Dosando o tom da conversa
Conforme o gosto do pago
Um dia volto pra casa
Com a charla de quem repara
A vizinha onde passo
A mágoa é o pala da solidão
Quem pensar ao contrário
Com esta cara de otário
Diga que não!
Que tal retomar o prazer
De escrever como um louco
Agarrado ao violão...
Fazer qualquer judiaria
Com essa mania teimosa
De encher de prosa o galpão
Eu mesmo sempre que posso
Boleio a perna, me coço
E tapo de suor a palavra
Mas quando olho pros "lado"
Odeio quem capa o gato
Alheio a sua manada...
A vida é nossa sofreguidão
Quem achar o contrário
Com a mesma cara de otário
Diga que não!
Somos farinha do mesmo saco
Quebrando uns "prato"
Mandando lenha nuns "troço"
Eu posso andar diferente
Ausente da minha gente
Mas toco tudo que gosto...
Meu mate está no floreio
Onde qualquer milongueiro
Sangra a ponta dos dedos...
Matando a pau num costado
Com a carne gorda do assado
Enfumaçando os pelegos...
Nesta milonga pra "loco"
Eu falo de tudo um pouco
E que me importa que os outros
Riam de mim!