No picadeiro da praça ele surgiu
Seguiu no ponto a rotina à risca.
Malabarista do asfalto, e alguém previu:
- Lá vem o salto em que ninguém pisca.
Marcou seu ponto com cal
Se benzeu, ai valei-me Deus!
Quatorze facas no ar
Aro em flor: - Deixa ver, vai saltar!
Estende o chapéu no chão
Suspende a respiração
Seu coração custa a crer
Que o corpo pode voar.
Miséria que escolheu seu destino.
Afina o salto mortal
Mede o céu, guarda o medo e a dor
Seu show que vale um real
Começou - escorreu seu suor.
Transcende a aglomeração
Acende a revolução:
- Agora que eu quero ver
Quem pode me acompanhar
Quem pode o tempo esquecer
Deixando a vida levar
Quem pode o risco correr
Só pra poder se arriscar...
No picadeiro da praça ele saltou
Voou, deixou na retina a risca.
Malabarista do asfalto, e alguém falou:
- Vê que tão alto é um golpe de vista
Rasgando a pele do ar
Raspando o fundo da fé
Fazendo o mundo girar do jeito que a vida quer.
Vai dando a volta por cima
A fome não desanima o salte-se quem puder.
E quando cai, diz no pé. / E quando cai, cai de pé.