Lenha no fogão, fumega o feijão
Flora um flamboiã, Dina no portão
À messe de louvor, foi na procissão
Na concha das mãos amparei,
A cigarra e o ardor do verão
Água de chocalho, me deram de beber
Canteiro de alecrim tem galha de benzer
Bojo onde eu guardei, a botija que eu achei
Na língua do meu lar, ouro de um valor
Mel de tal sabor, meu poema é pra cantar
No lombo das tardes fiquei, espiando a noite apontar
Abrindo cancelas pro vento passar
Decorando versos, doido pra voar
Cantoria de roda, arremeda o moleque
Presepe na galha, espantalha a tristeza
Cheiro o que choveu, temporão perfume arribou
Logo anoiteceu, e eu desconhecia o trovão...
Leraie...
Foi vem-vem cantar, que a claridão se fez
Nesse céu dentro de mim, meu açude sangrou
Meu povo festejou e eu fiquei assim
De barro um barroco, um poeta,
Sujo de luzerna e fragor
Amundiçado o povo era bonito de ver
Levando pra chuva os potes para encher
A estrela que eu colhi, foi da contemplação
Era um tempo de florir, a boca que eu beijei
Tava melada pra mim, tava doce de alfinim
Das estrelas me fiz andor, desse terço que ela me deu
As contas da viola, são notas de um cordão
Em acordes que agora, rezam o coração
Procissão pro cruzeiro, o terreiro de gente
Um repente valente, e eu moleque na cana
Tava bêbado de mote, nisso um romanceiro a nascer
Logo anoiteceu, e eu desconhecia o prazer
Eu e tu no sopé da serra ao luar
Nóis dois nu num enrosco danado de bom
Adeus eu vou-me embora ter com meu amor
Que a cantiga de agora se encerre como eu sou