Numa esquina de muamba
Um cachorro virou lata
Poste, poço hóstia, osso
Poça d’água
Churrasquim de rua
Entra em crise de fumaça
Debaixo da marquise
A vida passa
Esbanguela na ladeira
Esbarra de encontro
E dá tapa no ombro
Mas foge da goteira
Costura faz do avesso
Verso escrito em contramão
Que fura e cicatriza
Na medida do artesão
Palavra que é bordada
Na bainha da calçada a mão
Numa esquina entreaberta
Eu ouvi: Te dou na cara
Dá e corre, pó e porre, marra
Gíria de calçada
Que derruba um alfabeto
Poema numa deixa
De concreto
Quem tem corpo fechado
Mantém o peito aberto
Mas olha para o lado
Se a dor passa por perto
A mão que se apieda
Também pega pra capar
Só vai na corda e tange
Se tem sangue a zelar
A borda da palavra
Puxa linha pra desafiar