Quando eu acordo
Eu sento na beira da porta
Fico olhando a rua morta
Não vem ninguém me acudir
O jornaleiro
Me joga as novas do dia
Mas é tanta porcaria
Que eu prefiro dormir
Olho pro mundo
Já outro coitado nasce
Outro nome, outra face
Pra juntar com a multidão
Eu ando aflito
Com o tamanho dessa joça
Porque assim não há quem possa
Crer ainda em salvação
Vinte cigarros por dia
E macumba pra turista ver
Muito pouco de alegria
E quase nada de prazer
Ando tentando disfarçar
Minha tristeza
Cada vez que eu sento a mesa
Com a prece por fazer
Pai, dai-nos hoje
O pão nosso de cada dia
Mas também a alegria
Que teimou em se esconder
Nossa senhora
Mãe de todos pecadores
Nossa Senhora das Dores
Quantas mais santas houver
São tantas, tantas
Que eu até perdi as contas
Duma delas gostei tanto
Que até fiz minha mulher
Mas hoje ela caiu no samba
Faz macumba pra turista ver
Ela posa pra revistas
Faz programas de TV
20 cigarros por dia
E remédios pra gente esquecer
Que não há mais alegria
E quase nada dá prazer