Tropilha mansa, mesmo pêlo, mesma marca
Sempre delgadas, lombo liso, peito e anca
Tordilhas claras, feito nuvens, junto a tropa
Rondando o sono do tropeiro que descansa.
São três potrancas castelhanas, mesma casta
Sangue Cardal estas crioulas que encilho
Nos corredores nas lidas de tropa e ronda
Parecem tigres na noite, as três tordilhas.
E de regresso pro meu rancho de tropeiro
Vem escarceando ao trote pedindo vasa
Vem farejando junto ao pasto a liberdade
Do suave aroma do jardim que enfeita a casa.
E nos domingos, na minha folga de tropeiro
Com meu piazito e a morena, prenda amada
Jogo o que tenho nas patas dessas crioulas
Pois nunca deixo meu dinheiro em carreirada.
Essas tordilhas, minha doma, rédea e marca
São três monarcas, orgulhos de um domador
Que amansam sonhos ao tropear o gado alheio
Fazem do freio a arma de mais valor.
Doces de boca num aparte de mangueira
São quases feras num rodeio campo afora
Nem fazem trevos ao trotear n'algum varzedo
E nem conhecem os espinhos das esporas.
Se um dia o tempo entordilhar minha melena
Deixo o cavalo, a morena e o piazito
E numa potra, minha doma, rédea e marca
Num só galope me mando pro infinito.
Mas deixo heranças neste mundo a partilhar
Rédeas, bocal e os arreios castelhanos
Deixo o ensino pra fazer um bom cavalo
E mais três potros pra domar o outro ano.