Eu era da roça mudei pra cidade
Mas trouxe a saudade entranhada no peito
Meu jeitão caipira o modo de falar
Não dá pra negar a raiz não tem jeito
Às 8 da noite eu deitava era cedo
Nunca tive medo do trabalho duro
As 5 eu já estava no curral suado
Com o leite tirado 100 litros do puro
Meu pai a essa hora todo empoeirado
Milho descascado quase tudo pronto
Mamãe coitadinha acordava na frente
Cafezinho quente já estava no ponto
Toda tarde eu ia no rio bem pertinho
Pegar uns peixinhos para comer com arroz
Na volta quem sabe um mutum de bobeira
Com minha cartucheira não tinha depois
Domingo na venda todo mundo estava
Era lá que eu dava uma de cantador
Bebia por conta não pagava nada
Ninguém me deixava porque eu era o cantor
Se eu pudesse um dia voltar ao passado
O cheiro do gado em volta do cocho
Meus bois de carro o marreco e o navegante
O meu cão turbante e o meu cavalo roxo
Eu não tive estudo não tenho diploma
É coisa que soma pra quem quer sossego
Meus calos nas mãos meu rosto envelhecido
Não é nem motivo pra me dar emprego
Lá minha palavra era uma assinatura
Na confiança pura, mas eu não reclamo
Aqui eu não tenho aparência de artista
No ponto de vista de quem é do ramo
Foi lá que aprendi ser o homem que sou
Nas voltas que dou ainda não conheci
Um lugar um mundo melhor do que aquele
Se Deus tem é dele não é nesse aqui
Aquilo que era vida de verdade
A felicidade era coisa constante
Eu nunca negava um favor a ninguém
E a gente também ganhava a todo instante
Eu nunca perdi a uma festa de reis
Todo dia 6 de janeiro eu sabia
Começava aos 25 de dezembro
Ainda me lembro a toada da folia
Também nunca ficava sem namorada
Sempre bem trajado eu andava na linha
No final do ano o sorriso era aberto
O lucro era certo essa é a vida que eu tinha