para quem parte emponchado de razões
não há cansaço nem distância na jornada
em cada légua de saudade percorrida
faz da partida um novo sonho de chegada
quero voltar para beber água na bica
sorver de novo largos goles de infância
igual um rio que desgarrou-se da vertente
e lentamente rumo ao mar fez-se distância
mesmo que as brumas nebulosas do caminho
plantem desertos e vazios nesta esperança
mesmo que o tempo e as verdades sejam outras
quero voltar pra onde um dia fui criança
quero acordar ouvindo os sinos da matriz
as sacro santas manhas onde os avós
vestidos com o rigor das domingueiras
faziam orações por todos nós
quero voltar pra remoçar sonhos antigos
e adormecer com velhos cantos de ninar
quem teve um dia sonhos moços na partida
trás nos avios razões de sobra pra voltar