Ai, deixa-me chorar
para suavizar
o que não sei dizer
mas sei sentir.
Não pratear o amor
que se perdeu
é a nossa alma enganar
e ao próprio coração
querer mentir.
Rir...
é quase iludir,
é querer forçar,
o próprio coração a gargalhar,
quando ele está solitário
na dor,
a soluçar de amor.
É mais sublime
a lágrima que exprime
as nossas emoções,
amenizando a alma
cheia de ilusões,
do que sorrir
para esconder a mágoa
que o olhar não diz.
Não há ninguém feliz!
Quero fazer das lágrimas que choro
estrelas a brilhar,
rosas de cristal
do pranto emocional.
Se ela voltar,
fulgente diadema
então lhe ofertarei
do pranto que eu chorei!
Sim, quem nunca chorou,
certo, nunca amou,
talvez nem alma tenha
para sentir.
Não me faz inveja
este prazer,
eu gosto, até de padecer,
chorar é a mágoa
em pérolas diluir!
Mas quem quiser amar,
certo há de chorar,
há de sentir morrer o coração,
porque o amor sendo belo é falaz.
como os ais,
se desfaz em ilusão!
Vós que, como eu,
viveis de amor,
lágrimas frias, lágrimas de dor
já derramastre, triste,
na aflição
do vosso coração
que tudo quer...
A ausência da mulher
que idolatramos nos induz
abrir as fontes d'alma
e delas derramar
as lágrimas de luz,
dando expansões à dor,
a dor sem par
que, a palpitar,
em nosso peito vive
como esfaimado corvo a devorar
o nosso coração em luta atroz.
A alma tem o poder
de dizer
o que n'alma sentimos nós.
Quando Maria,
aos pés da cruz,
triste fitava o rosto de Jesus,
com as mãos as faces pálidas
cobriu
e o manto perenal caiu,
quase a desfalecer
do Grande Mártir o coração,
quis vida, quis viver,
sentindo a extrema-unção,
Pérolas trementes
de lágrimas ardentes
de agonia,
rolando pelo rosto de Maria,
o transcedente amor
a transluzir e a refletir
as santas emoções.
No céu, Deus, na glória
do encanto,
formou com o seu pranto
as constelações.