Eu arranjei um chevrolet setenta e nove
Da mesma cor que fica o burro quando foge
A caixa é seca e o motor é maçarico
Pra que melhor se faz o mesmo serviço.
É reduzido e eu faço marcha-cruzada
E quando eu passo, encho os olhos da peonada
Toco, caçamba ele é pau pra toda obra
Pra seis mil quilos, meto dez e vou-me embora
É queixo duro, mas, eu torço ele na marra
Sento-lhe a vara, morro abaixo, a cem por hora
O freio é bom, só dou umas dez pedaladas
Tranco a buzina pra tirar quem ta na estrada.
Nas madrugadas frias do nosso inverno
Não tem que faça um “percão-véio” funcionar
Três baterias abro o filtro e taco fogo
Se não tem jeito o melhor jeito é arrastar
E quando pega larga aquela fumeguera
Já apelidaram a onça de porvadeira
Acorda o povo fazendo uma barulheira
Quem reclamar apresento a carneadeira.
Eu ando nele me sinto num carro novo
Qualquer cabrito não dispõe desse conforto
O banco é todo aveludado e eu faço gosto
De ver a camisa se enrolando até o pescoço.