Perguntam-me p'lo Fado,
Eu conheci-o:
Era um ébrio, era um vadio,
Que andava pla Mouraria
Talvez inda mais magro que um cão galgo
A dizer que era fidalgo,
Por andar com a fidalguia
Seu pai era um enjeitado,
Que até andou embarcado,
Nas caravelas do Gama
Um malandro andrajado e sujo,
Mais gingão do que um marujo,
Dos velhos becos de Alfama
Pois eu, Sei bem onde ele nasceu
Que não passou de um plebeu,
Sempre a puxar p'ra vaidade
Sei mais, Sei que o Fado é um dos tais
Que não conheceu os pais,
Nem tem certidão de idade
Perguntam-me por ele,
Eu conheci-o:
Num perfeito desvario,
Sempre amigo da balbúrdia
Entrava na Moirama a horas mortas,
E ao abrir as todas as portas,
Era o rei daquela estúrdia
Foi às esperas de gado,
Foi cavaleiro afamado,
Era o delírio no Entrudo
E dessa vida agitada,
Ele que veio do nada,
Não sendo nada era tudo
Pois eu,
Sei bem onde ele nasceu,
Que não passou de um plebeu,
Sempre a puxar p'ra vaidade
Sei mais,
Sei que o Fado é um dos tais
Que não conheceu os pais,
Nem tem certidão de idade