De um lado um público jovem, maldita massa despolitizada
As vezes uns tão radicais, mas base teórica nada
Nunca invejei ninguém, na verdade ataquei a estrutura
Uma grande manobra arriscada como Bukowski em literatura
Chinaski, o aprendiz, filho de Lula e não de Ustra
Fui infeliz atacando MCs? Não, questionei a indústria!
Direto do gueto, do gueto, do gueto, do gueto, do gueto!
Riqueza pro gueto, riqueza pro preto, uma vida melhor e mais justa!
Os irmãos estão morrendo por uma bermuda, um boné, um par de tênis
Triste né?! Querem se matar? Então que matem Michel temer!
Em 2009 e eu fazendo isso
Ainda tenho pela frente uma carreira imensa
E se tu acha que eu não acho que isso é compromisso
Vou provar que sou maior do vocês pensam!
Sou maior que Facebook, Instagram e Tumblr!
As tretas de internet estão gerando hype?
Nessas ruas meus amigos morrem de verdade
E o poeta cantador é válvula de escape
Sem tempo pra conversar água, trajetória amarga
Finalmente pra agonia estou vendo saída
Só sei que daqui pra frente aguento a carga
Mais que música, essa porra é história de vida!
Hey jow!
Medo, clareza e poder
O medo é o primeiro passo
Que ocupa o espaço reluzente na sua frente que não te deixa ver
A falta do medo também é perigosa
Esquece do espinho quando segura a rosa
Segura acelerador na curva sinuosa
Vida loca, vida dura, vida cabulosa
A clareza ilumina
Te traz confiança nas rimas
Mas clareza em excesso também cega
E normalmente é isso que determina
A clareza vem quando passa o medo
Por isso os gênios enlouquecem muito cedo
A clareza vem trazendo o poder
De ver tudo através do seu espelho
Tudo muda com o poder
Você pode ir, você pode ter
Todos vão te ouvir, também te querer
E outros vão tramar pra poder te foder
Mas querer não é poder, só se for com amor
Por isso o poder é transformador
Trazendo a água que rega a flor
Não vem jogar sua merda no meu ventilador
Propósito inflexível, espírito inabalável
Instinto incompreensível, caráter inquestionável
Os milagres acontecem a margem do impossível
Como água fura a pedra mas também é maleável
Como vento invisível com força incomparável
Como fogo inflamável em volta do combustível
É fácil ser temível, difícil é ser amável
Eu vi o esforço dos mano pra fazer o sonho possível
Não cuspa no prato dos outros, crescer assim é bem mais difícil
Como Beethoven era surdo e fazia grandes sinfonias
Como Dali era louco e pintava grandes obras primas
Se eu for falar mal de alguém, eu falo mal dos políticos
Do sistema escolar, hospitalar que continua em estado crítico
Você não viu como acabou Tupac? Vocês estão querendo ser Notorious
Os gangsters de internet viram ratos de laboratório
Piedade meu senhor, eles não sabem o que fazem
Piedade meu senhor, eles não sabem o que fazem
Piedade meu senhor, eles não sabem o que fazem
Piedade meu senhor, eles não sabem o que fazem
Exu abre caminho, cê fala que ele é vilão
Heróis morrem de overdose enquanto eu respirar, fila da puta, vou ser vilão. Faz de MCs divindades
Tenho dívidas pra pagar, foda-se sua vaidade
Foda-se seu backstage, foda-se sua vaidade!
Riram do meu sotaque, Sulicídio não foi um ataque
Foi um foda-se ao público. Esses moleques não são de verdade, porra
Não são de verdade
Amam MCs e não o hip-hop
Você ama o rap? Prove?
Em 1999 Lauren Hill pensava em mim cantando 999
Que meu verso te toque de alguma maneira
Mas fila da puta, você jamais me toque!
Foque antes que isso te sufoque, dê a Cesar o que é de Cesar, seja o dano
Mate Cesar, comemore no passin romano
Meus irmãos transam com a guerra e ela tá enjoando
Favela tá menstruando e eu cansando
Enjoado de dar gole ao santo
Sou o meu próprio santo, então esse é meu gole
Engulo o álcool e o álcool me engole
Me dê ouvido ou me dê outro gole
O rap me faz e faço rap até que ele me degole
Ou me de outro gole!
Rap eu não sou seu inimigo
Hoje em dia fanboys se masturbariam no Xvideos assistindo o crucificar de um Cristo
Eu sou Bahia, preto, sou Salvador mas não sou o seu cristo
Rap, sou preto, sou Salvador, mas não sou o seu Cristo
Antes de vomitar sobre a voz
Engunha menino! Peça bênção aos nordestinos que são seus pais e avós!
Antes de arrotar sobre o algoz
Engula esse hino a regência dos clandestinos nas capitais em arrebóis
Pontos vitais dos cafundós do Capibaribe
Os meus cristais vem dos lençóis lá de Beberibe
Quem garante que o rap e sua foz
Veio dos seus canais
Se nos sertões lá atrás
Desaguavam Jamaica e Caribe?
Contesto o contexto de outrora arriégua
Remexo o eixo, o desfecho, o texto devora, sem trégua, põe a vida em linhas?
Minha oratória aqui quebra a régua
Submeto tua glória e ponho toda história em uma légua
Como uma esfera do ventre da velha escola
Estou entre o agora e a artéria do sempre que ela incorpora
O que vem de fora é foda pra gente, é moda presente
Mas antes já existia o repente
A prosa e a viola
Agora aqui promovem a ignorância dos nossos
Dizendo que a seca e a miséria são apenas mazelas, fatores históricos
Envolvem intolerância e destroços
Descaso insista a quimera
Incinera a matéria e os rumores folclóricos
Ergui teu concreto e vivi no abstrato
Ergui o teu teto e o teu ar de distrato
Que em mim desconta
Perdi filho e neto no meu chão de mato
Perdi todo afeto vivendo o mal trato
Não há nada que pague sua conta
Sou pássaro entre semáforos
Mais rápido que a ascensão dos bárbaros
E os declives de cunha
Rasgando a diáspora
Conteúdo mais áspero que os sertões e os áridos
De Euclides da Cunha
Se lembra daquelas conversas
Te disse que a inércia só pregaria peças inversas
Para os bons desempenhos
Atravesso travessas
Sou o pagador de promessas já paguei todas elas
E até hoje ainda pago pelos dons que eu tenho
Por vim de onde venho e ter a cabeça chata
É muita inteligência a mente pequena parte e se achata
Me deixam de bucho vazio venço o desafio
Minha escrita é farta alimento a alma e nada me falta
Nada me empata!
Sou fera nativa do vão da maré
E tenho a pata ativa no chão do Assaré
Tua rima vem da cidade em construção
Não tenho estudo, nem arte, minha rima faz parte das obras da criação
Seria muita prepotência dizer que eu represento o nordeste
A causa é bem maior que o cep e que o rap
Sou apenas adubo dos corpos celestes, que a terra aqui veste
O calor me fizeste como o agreste dos mestres
Se o Brasil é arvore que exponha sua matriz!
Nordeste quebra o mármore pois sempre foi sua raiz!
Negar isso é burrice é tolice de todo um país!
Sem disse-me-disse pois depois disso não tem mais diss!