São os que vão
Pedir o direito de calar
Pra que os únicos votos
Sejam os votos de silêncio
E o sangue
Vai encher as bocas das covas sem nome
Afogando a memória
De tudo que caiu
Na busca de uma solução
É justiça, eles dizem
Quem foi rico escolheu por todos nós
E quem foi pobre ou tinha boca, sem terra
Levou de graça sete palmos desse chão
Mire e veja
São as mesmas notícias enroupadas
Entrando em nossas portas
E se tornando comensais
A mesma fome em nossas mesas
Em breve as 3x4 nos jornais
Quem me dirá onde está
Aquele moço fulano de tal?
Filho, marido, irmão, namorado
Que não voltou mais
Insiste um anúncio nas folhas dos nossos jornais
Achados, perdidos, morridos
Saudades demais
Mas eu pergunto e a resposta
É que ninguém sabe, ninguém nunca viu
Eu sei que só sei quão sumido ele foi
Se é que ele sumiu
E quem souber algo acerca do seu paradeiro
Beco das liberdade, estreita e esquecida
Uma pequena marginal
Dessa imensa Avenida Brasil
Memória de um tempo onde lutar por seu direito é um defeito
Que mata
E tantos são os homens que viraram as manchetes
São braços esquecidos que fizeram os heróis
São forças, são suores que levantam as vedetes
Do teatro de revistas que é o país de todos nós
São vozes que negaram liberdade concedida
Pois ela é bem mais sangue, ela é bem mais vida
São vidas que alimentam nosso fogo da esperança
O grito da batalha
Quem espera, nunca alcança
Quando o sol nascer
É que eu quero ver
Quem se lembrará
Quando amanhecer
É que eu quero ver
Quem acordará
Eu não quero esquecer essa legião que se entregou
Por um novo dia
Eu quero é cantar essa voz tão calejada que nos deu tanta alegria
E vamos à luta!