O corpo é minha base
(óbvio) mas (também)
minha relação com o mundo.
Conheço meu corpo
(mais) por dentro:
uma intimidade
renovada e sem surpresas,
num diálogo
diuturno e franco.
Percorro-o
pelos meandros vasculares
num exercício mental
percebendo seu funcionamento
(subsistemas), vejo-o
por dentro, sentindo-o
- ele não sente, eu que o sinto -
nas partes e no todo
de meu pensamento:
ele cresce, renova-se,
decompõe-se
enquanto
eu o assisto.
O corpo tem os seus
humores e rompantes:
ele tenta me dominar
mas
na maturidade da vida
eu o comando
sem tirania
e até com complacência,
satisfazendo vontades
e caprichos.
Troco experiência
(vivência) com o ar,
com os sons, a luz
- pelo corpo e não
(apenas) com a razão.
É o meu corpo que sabe
(mais) antes de mim.
Eu apenas decifro
e decido, quando
não me deixo seguir
seu próprio rito.
Ele nem sempre responde
aos meus estímulos.
Eu tampouco satisfaço
(todos) os seus apelos,
num equilíbrio provisório.
Sem sobreviver a ele,
sem vitória e sem final
numa bioquímica sutil
que acompanho a uma
distância entre passiva
e determinante, mas nesse
caminhar (juntos) sempre
chego na frente.