Quem me plantou nesta vida
Moldou-me à feição dos cerros
Áspero corpo de pedra
Fustigado pelos ventos
E umas furnas assombradas
De ressábios e silêncios
Minha aridez abrigava
Raras plantas fenecidas
Bem mais espinhos que flores
E minguadas coronilhas
Onde os pássaros migrantes
Pousavam breves cantigas
E assim passei muito tempo
A cantar melancolias
(Ela me trouxe a esperança
De um amor maior que o tempo
E abriu a clara vertente
Represada no meu peito
Como a bênção do arco-íris
Nas garoas de setembro
Ela me trouxe a esperança
De um amor maior que o tempo)
Vestido em verde fecundo
Por este amor renascido
Me derramei em cascata
Flor e fruto, canto e ninho
Pela luz dos olhos dela
Senhora do meu destino
E a vida se fez poema
De um romance campesino
(Ela me trouxe a esperança
De um amor maior que o tempo
E abriu a clara vertente
Represada no meu peito
Como a bênção do arco-íris
Nas garoas de setembro
Ela me trouxe a esperança
De um amor maior que o tempo)