Acolhe-me nos teus famintos delírios
De meretriz de raça infame...
Subsorve-me soturna e distante madrugada.
Bafeja sob mim o cheiro húmido do pranto
Das crianças estropiadas,
Por esses carris dilacerantes.
Acolhe-me nas entranhas da tua eternidade,
Nos espasmos sussurrantes da peste e da fome,
Que na tua altivez gesticulam em contradanças
Ao brilho de um fatal punhal...
E me vazas os olhos de um ocre vermelho,
Num decrépito manto exangue.
Por toda a parte, o fogo errante,
O ódio que ao estremo horror as coisas leva.
Penetrante e estrídulo soa o horrendo pânico,
Nos sepulcrais lajedos, os fantasmas de todas as mentiras.
A minha dor ai repousa na podridão do lodo,
Durmo nos abismos das mortas falésias.
Na enregelada terra,
Numa hoste estranha, de gritos secos,
Fermento a minha alma em pântanos imensos,
Onde apodrecem todos os desejos distantes.
Recebo a eterna recompensa - o processo invisível da minha ruína,
O definhar dos meus membros até ao último grão de pó.
A estranha eternidade, a atroz tortura,
A minha penitência!
Embalo-me em gritos sublimes,
Semelhantes ao de um agudo estertor,
Enquanto nos meus sonhos de cadáver
O frio mortal da alma me alimenta... confidentemente...