Já vi o algoz do meu pai coroado
No leito sagrado da minha família
Venci a batalha com pouco soldado
Fundei grande estado na pequena ilha
Perdi meu amor e bebendo veneno
Morri tantas vezes até renascer
Das cinzas dos corpos, dos negros forreados*
Dos homens que nascem só para morre
Do fogo que queima a mulher mais valente
Do filho de Deus que morreu pra viver
No beijo das flores já fui perfumado
Já fui coroado por uma rainha
Escalei a montanha, busquei a resposta
Aos mistérios da vida que eu quis compreender
Já tive vertigens no meu pensamento
E moinhos de vento eu fui combater
Com a pena na mão e a luz do candeeiro
A força do terreiro que me fez nascer
O vinho sagrado, o meu corpo suado
E o olhar já cansado de tanto sofrer
A lente dos homens e seus telescópios
Enxergam tão longe mas não querem ver
Que as velas acesas não pagam promessas
Promessas se pagam no giro do mundo
O pão e o peixe, a semente do trigo
São mais que milagres, são fontes de vida
Que se multiplicam nos calos dos homens
Nos rios da terra e na força do ar
E fazem do homem um mistério profundo
A semente da vida não pode acabar