Vai, o malandro que se foi
Tantas, quantas aprontou
Nunca mais vai aprontar
Foi e todo o morro estava ali
Pra lembrar se despedir
Pra igreja abarrotar
Enquanto o padre ecoava
Seu já tão cansado latim
A turma do bar se entreolhava
Lembrando as noitadas sem fim
Enquanto o corpo se estende
Num velho e surrado caixão
Tem tanto agiota a procura
De um filho, de um tio, de um irmão
As tantas mulheres que a vida lhe dera
E lhe deram tamanha atenção
Negaram, cederam, gemiam, choravam
Por ver tão esguio coração
Que não bate mais
E ao vê-lo assim
Se arrependiam de ter desejado
Sua morte e seu fim
E ao reconhecer a que lhe sucedeu
Sem raiva ou desprezo
Puxava o assunto que há pouco morreu
Lá se vai, o malandro que se foi
Tantas, quantas aprontou
Nunca mais vai aprontar
Foi e todo o morro estava ali
Pra lembrar se despedir
Pra igreja abarrotar
Enquanto a missa se estende
Com fé, com montanha e moinho
O samba inteiro pergunta
Quem sabe tocar cavaquinho
Enquanto o consolo se chega
Que a vida se leva adiante
O time inteiro lamenta
A perda de um bom centroavante
Os tantos escravos
Que tanto xingavam
O ser vagabundo em questão
Perdiam o tempo, cabelo e dinheiro
Um dia também morrerão.
Estavam por lá, entre a multidão
Num misto entre tanto respeito e inveja
Por tal conclusão
Sem acreditar que a morte o levou
Contavam as tantas histórias
Aonde ele sempre escapou
Lá se vai, o malandro que se foi
Tantas, quantas aprontou
Nunca mais vai aprontar
Foi e todo o morro estava ali
Pra lembrar se despedir
Pra igreja abarrotar