"Não é de uma beleza arfante
Mas sabe conquistar tão bem
Se perde entre mil amores
Mas nunca foi de mais ninguém
Enquanto a madrugada acende
Quando o outro rosto o sono tem
Desperta sem deixar vestígios
Pois não será de mais ninguém
Já lhe basta recobrar o que o tempo já levou
O que a beira do mar displicente atiçou
E num beijo só, sem motivo ou razão
Desmanchou os tantos truques
Que guardavam até então
Fez do seu olhar avidez e aflição
O silêncio a repartir
Se intercala aos risos que em vão
São tão presentes em lembrança
A ausência junto a eles vêm
As cenas que guarda consigo
Não podem ser de mais ninguém
Os tantos poucos bons poemas
A expressão que lhe convêm
As falas que viu no cinema
Não sabem distinguir ninguém
Se esse dom lhe traz abrigo
E invencível lhe mantém
Batalha contra quem lhe ama
Não é vencido por ninguém
Uma estrada sinuosa e a demora por chegar
Numa casa entre as serras esquecida por lá
Não lhe tinha o frio nem havia como ter
O outro corpo tão macio bem sabia aquecer
Não se lembra mais
Da paisagem em vastidão
Preferia se ater
Entre os sussurros que em vão
São tão presentes em lembrança
A ausência junto a eles vêm
As cenas que guarda consigo
Não podem ser de mais ninguém
Embora beire a loucura
E já repleto de desdém
Impõe a si essa procura
Que encerrará sem ter ninguém
Se apoia em feminis temores
Por nada a vida lhe detém
Não deve desvelar as dores
Que não terá por mais ninguém
Uma igreja pequenina e a tristeza que ele traz
O recanto onde o irmão descansava em paz
Se arrependeu do que não disse ao irmão
Que agora não iria ouvir a sete palmos desse chão
O que lhe consolou, lhe eximiu da frustração
Foi render-se a aquele olhar
Um olhar tão terno que em vão
É tão presente em lembrança
A ausência junto a ele vem
As cenas que guarda consigo
Não podem ser de mais ninguém
Embora lhe distraiam as dores
Temor que sempre lhe entretém
Espalha os mesmos vis temores
Que não deseja pra ninguém
Se fez refém de tanta mágoa
Magoa a quem lhe é refém
Se esforça pra que essa mágoa
Não se restrinja a mais ninguém"