Sou velho
Minha raça limita com a dos patriarcas
Sou velho
Fui ninado pelas parcas
E hoje a memória turbada
E a língua pesada
De nomes e recitações
Confundem concílios e ciclos e clãs
Com novíssimas rebeliões
Sou velho
Minha tribo nasceu do vapor do aguaceiro
Sou velho
Fui sagrado pelo arqueiro
E hoje o silêncio trancado
E o sangue pisado
Por bestas e musas venais
Implodem de raiva e de dor no tumulto
Vastíssimo dos carnavais
Às vezes um fogo me impele
Por dentro e eu lembro
Que a tempos não tenho pele que tisne
Às vezes eu canto em falsete
Mas são mãos do tempo
Torcendo meu gasganete de cisne
Sou velho
Minha fé recusou dez bezerros de ouro
Sou velho
Fui alçado pelo touro
E hoje a linhagem traída
E a força partida
Nos atos e músculos meus
Definham nas cátedras sob o conluio
Cultíssimo dos fariseus