Dizem as más línguas que eu caduquei
Que fali com a rosenblit
Dizem que eu desatualizei
E que ninguém me entende mais
Dizem até que eu nunca prestei
Porque eu sou filho do carnaval
E que o horário nobre da programação
Não tem espaço pra artista local
E que eu to fora da articulação
Da cena pop intelectual
Ano que vem vou experimentar gravar um frevo de protesto social
Pra lançar depois do carnaval e ver se rola um novo lance autoral
Eu até pensei em samplear um batidão tecno-frevo do pará
Ou entrar na onda do axé, chamar até o luís caldas pra gravar
Eu até pensei em me encaixar nessa tendência nacional de criação
Mas não quero tchu nem quero tchá nem sei fazer o lê lê lê com perfeição
Mas por ser artista popular vou implorar pra tocar na televisão
Ou acho que é melhor me contentar se a mulata vir frevar no meu caixão
Há quem diga que o melhor caminho é fazer arte prum público elitista
E classificar o que se faz de produção indie cult pós modernista
Pode até cantar desafinado só não pode perder a pose de artista
No loop de um frevo sintetizado estilo capiba neo tropicalista
Essa nova de ser patrimônio mundial pode até me dar moral
Pra multiplicar o capital que arrecadei com esse cachê do carnaval
E então pensei em contratar alguma dessas mulher fruta pra dançar
E me arriscar a ensinar o basicão: ponta do pé calcanhar.