Mais um dia chuva, mais um dia cinzento
O sol se escondeu atrás de um pensamento
E um lamento que nunca foi ouvido
Tristes palavras de um coração aflito
Que dói dói, dia após dia a dor só cresce
Joelhos no chão segura essa prece
De um pai desesperado, desempregado
Em São Paulo tá difícil viver, sofrer calado
O governo não cuida a favela sobrevive
E as famílias também entram em crise
Vendo a chuva cair, o barco afundar
Não ter pra onde ir, se quiser tem que remar
Alguns perdendo tudo em alagamento
Outros perdendo a vida quanto sofrimento
Mas ele não desiste, finca o pé e acredita
É realista esperançoso, não um suicida
Como os bandidos que saem na madrugada
Que roubam levam tudo e se pá até mata
Homicidas voluntários, sua mente é o crime
Sua alma vai descer, o abismo é o limite
Você tenta resolver
Não consegue fazer nada pra mudar
Tenta se esforçar, reza pra ajudar
Mas mudar quem não quer ser mudado não dá
Você tenta resolver
Não consegue fazer nada pra mudar
Tenta se esforçar, reza pra ajudar
Mas mudar quem não quer ser mudado não dá
A noite é fria, intensa, mas é calada
Pra quem não tá afim de escutar não ouve nada
Mas é ensurdecedor pra quem vive nela
É bem mais do que folha branca, tinta e aquarela
São as cinzas um passado mal acabado
É a certeza de um país pobre com o governo em pecado
E a justiça, aonde está? De quem virá?
Sinto que ela passou fome, já morreu e não vai voltar
Não nasci pra sobreviver
Eu nasci pra ser feliz e ter o que comer
Enquanto muitos se afogam murmurando da vida
Outros tentam fazer algo e dar a volta por cima
Muitos pensam que é fácil viver nessa vida
Experimenta 20 anos de periferia
Tem muitos livros ensinando a viver
Mas em um só dia eu te mostro o que é sobreviver
Aqui não é conto de fadas, nem mais um clichê
Sei que a vida não tá fácil nem pra mim nem pra você
Minha ideia é clara e objetiva
Trazer os fatos, a verdade do meu povo
O descaso que se passa
Meu ponto de vista é
Ter o que fazer, ter o que ganhar
Ter o que aprender, ter o que falar
Já não é mais benefício
Só é indicio que cê tá vivo
E que tudo o que se tem um a hora vai acabar
Não adianta dinheiro, fama, um copo cheio no bar
Ou dois corpos cheios na madrugada
O adultério é como a navalha
Que te corta em pedaços e joga no mar
Quando se vê já é tarde sua família a afundar
A felicidade é família distante
Mas o sofrimento não era pra ser tão constate
Esperamos muito mais
Mais alivio quero paz
Quero lugar pra morar
Não aceito tanto faz
Ter emprego e trabalhar
Ter dinheiro pra comprar
Direito de ser feliz e também de estudar
Direito de ter saúde e também de opinar
Para não morrer na fila esperando curar
A dor é mais forte quando ela é no peito
Eu só peço um paz e de respeito
Para aqueles que lideram e vê o povo passar fome
Isso te faz mais ou menos homem?
Eu te pergunto quando é que isso tudo vai mudar?
Se não tem a resposta, não adianta mais rimar
Você tenta resolver
Não consegue fazer nada pra mudar
Tenta se esforçar, reza pra ajudar
Mas mudar quem não quer ser mudado não dá
Você tenta resolver
Não consegue fazer nada pra mudar
Tenta se esforçar, reza pra ajudar
Mas mudar quem não quer ser mudado não dá
Precisamos de muito mais gentileza e conscientização
Mais amor ao próximo, e entre nós menos corrupção
Mais paciência e experiência para lidar com a situação
Menos mentiras, menos balelas, e bem menos televisão
Precisamos de praia, sol, areia, cerveja e violão
Cultura, arte, esporte, lazer, saúde e educação
Exigimos respeito à favela, à comunidade
Nunca se esqueça que ela também faz parte da sua cidade
E não adianta levantar o nariz bater no peito dizendo que é homem
Se não leva uma vida digna e nem ao menos honrar seu nome
A vida é louca o tempo é curto a oportunidade não pode passar
O depois é a incerteza
vamos fazer algo pra mudar?
Nos esforçamos pra fazer
Algo acontecer e tentar mudar
No modo de pensar, no jeito de falar
Variar, desse vez eu não vou me calar