Entro numa farmácia,
O farmacêutico é fanho,
Pânico na madrugada.
Minha cabeça rodando,
Tomo mais um comprimido,
Se parar eu vomito.
Minha pílula dourada,
Egito que resplandece.
Vício, minha pátria amada.
Plasil, plasil, plasil.
Dentro das minhas entranhas
O câncer se desenvolvendo.
Ânsia, vômito, espasmo.
Os nervos à flor da pele,
Sinto um cheiro de ópio
Que bate e me conecta.
Olha só minha glande,
O pensamento é glande,
O meu desejo é glande.
Plasil, plasil, plasil.
Mais um pico na veia.
De noite eu quase não durmo,
Lexotan na cabeça.
Todo dia prosac,
Um barulho no quarto,
Um susto, um rato.
Da minha cama eu avisto,
Livros, teias, traças,
O canto negro de um pássaro.