Eu fui do mar um bravo pescador
Já fui do Porto, do Farol, do Forte
Carrego sangue quente, abrasador
E a minha sorte vem quando o mar sacode
Fui milongueiro em ponto da ladeira
Laranja podre, apodrecendo a safra
Fui má notícia, fui pé de rasteira
E a minha sorte a seca é quem abafa
Fui pirilampo correndo na feira
Fui vendedor, carregador barato
Minha barriga até que 'tava cheia
E a minha sorte escorregou no prato
Fui da pelada, jogador de areia
Canela fina atropelando a bola
Dei meia volta, dei volta e meia
E a minha sorte eu chutei pra fora
Eh, ciranda
Ciranda girou
Diz se é minha estrela, Rosinha
Que no céu brilhou
Eu fui guri tocando um berimbau
Eu fui da ginga, guia de turista
Nó na madeira, que nem mel de pau
E a minha sorte eu já perdi de vista
Fui passageiro em beira de auto-estrada
Cambaleando e tropeçando o passo
Peguei carona com a pessoa errada
E a minha sorte passou, deixou um abraço
Eu fui criança sem doce na boca
Choramingando e mastigando a fala
Sem mão de mãe, miúda e muito pouca
A minha sorte virou papel de bala
Hoje romeiro entre orações e cruz
Um pregador tecendo terço e velas
Paguei promessa à Virgem de Andaluz
E a minha sorte ofereci à ela