Nerve - Lápis de Cera Тексты

O destino é cinico

Acabei de ver o meu abrigo ser atingido por um relâmpago pela segunda vez num mês, no mesmo sitio.
É dificil... Já é um processo mecanizado. Ponho o primeiro alicerce e passo para piloto automático.
Já esqueci sentimentos tipo amor, ciúme e carinho. Não me pareceram muito úteis nesta ilha deserta sozinho.
Depois dos comprimidos, do álcool e das seringas, percebi que eu sou a minha própria má companhia!
Estes lápis de cera devem ter algum problema, porque a cidade ainda é cinzenta e ainda não vi borboletas.
Só cores neutras! A noite soprou a vida da minha paleta. Mas lágrimas são incolores, pintar com elas, não vale a pena.
Nunca pensei escavar um túnel numa fuga ao sofrimento. Tinha medo de partir uma unha com o movimento.
Agora olha para mim, com roturas nos ligamentos, com sede, sangue nos dedos, sem unhas, a escavar no cimento!
E vou escavar esse túnel! Quando podia simplesmente pintar uma porta na parede, para nos tirar desta cela.
Mas quando voltar à cidadela não quero que ela me chame artista plástico, mas artista de ferro!


Já não consigo pintar por cima do problema. Era uma folha em branco antes destes lápis de cera.
Respirava policromia. Lágrimas são aguarela. Disfarçava imperfeições na pele com lápis de cera.
Já não consigo pintar por cima do problema. Sou uma folha cinzenta depois destes lápis de cera.
Agora a Natureza é morta, a minha cidade é deserta. Lápis de cera, Lápis de cera...

Uma imagem vale mais que mil palavras? Boa piada. Só que eu sou cego e começo a já não achar graça.
Então parem de me dizer: "Abre os olhos para perceber!". Pelos vistos, tenho um ponto de vista diferente, estás a ver?
De olhos fechados, pego nuns lápis de cera gastos, pinto um arco-irís, deito-me à sombra desta árvore com uma espiga nos lábios, chapéu tombado para a frente...
Não sei o que seria de mim sem breves momentos como este. Tenho mil sonhos guardados. Mil vão-se manter escondidos.
Por isso lanço ao oceano todos estes sonhos perdidos, dentro de uma garrafa e com um bilhete de boa sorte, para quem os encontrar e tentar concretizar.
Desisto! Admito, sou só um jardineiro sem amor a terra. Rego umas duas vezes e deixo o resto com a primavera.
Admito, sou só um romântico não assumido. Digo umas duas palavras e deixo o resto com o nervosismo.


Já não consigo pintar por cima do problema. Era uma folha em branco antes destes lápis de cera.
Respirava policromia. Lágrimas são aguarela. Disfarçava imperfeições na pele com lápis de cera.
Já não consigo pintar por cima do problema. Sou uma folha cinzenta depois destes lápis de cera.
Agora a Natureza é morta, a minha cidade é deserta. Lápis de cera, Lápis de cera...
Uma imagem vale mais que mil palavras? Eu trocava mil imagens por uma palavra de confiança da tua parte!
Nunca quis ver-me abraçado a esta almofada, à procura do doce aroma que antes sentia quando acordava.
Ainda pergunto. Como pudeste incendiar tudo? Não era grande e quente, mas construímos aquela casa juntos!
Soltar insultos é fácil como fazer as malas. Difícil é desculpar e resolver problemas com calma.
Tu não estás impressionada e eu não tenho um propósito?! Estou montado numa estrela cadente, a tentar caçar um unicórnio!
Como te atreves a falar em espírito de sacrifício? Eu tinha tanto tanto espírito de sacrifício que sacrifiquei o meu espírito !
Eu estilhaço a minha vida com estas declarações ridículas, mas vivo em câmara lenta para contemplar as partículas.
Não sou uma folha em branco. Nem cinzenta! Eu sou uma tela repleta de rabiscos e padrões sobrepostos a lápis de cera!
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