Eu conheci o velho João, coveiro de profissão
Lá pras bandas de Goiás
Tinha mais de oitenta ano um sorriso anunciando
confiança, amor e paz.
Conversava muito pouco
Tinha fama de ser louco
Nunca deu seu endereço
Detestava despedida
Dizia que Deus dá vida
Mas garante só o começo
Dizia que Deus chorava
Cada vez que o homem erra
E a terra não é da gente
Que a gente é que pertence à terra
João coveiro há muito tempo
Domador de chuva e vento
Ia só pelas estradas
João poeta e vagabundo
Passo a passo volta ao mundo
Carrega a sua enxada
Quanta cova ele fazia
Na beira da rodovia
Por dever ou compaixão
Mesmo se passava fome
Jamais enterrou um homem
João só sepultava cão
Quantas moedas frias
Um homem leva em seu caixão
Quantos amores cabem
No cofre do seu coração.
Numa noite João arrisca atravessar a pista
Contra-mão pra socorrer
Um cachorro atropelado que agoniza abandonado
Pouco antes de morrer
Mas sem terminar a missão
João se arrasta pelo chão
Tanto grito tanta luz
João acorda de mansinho
Ele agora é um passarinho
Sobre o ombro de Jesus
Quantas moedas frias
Um homem leva em seu caixão
Quantos amores cabem
No cofre do seu coração
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