Certa vez conheci uma senhora,
Que morava no interior,
A chamavam de Branca de Neve,
Não tinha nada de muito valor.
Uma casinha no campo,
Um jardim florido,
Canto calmo longe do perigo.
Numa tarde seca e quente,
Lhe pedi um copo d?água
Em frente à seu casebre,
Espontaneamente me contou
Sobre suas jornadas,
Sem tartarugas ou lebres.
Apenas um conto sem fadas.
As ilustrações não eram leves
E as indagações tão pouco breves.
Seu apelido era uma piada,
Sua cor era parda,
Mas Branca de Neve
Já estava acostumada,
Pois desde jovenzinha
Tinha sido discriminada.
Ao nascer prematura foi abandonada,
Criada na favela da Maça Envenenada.
Filha de uma mãe e vários pais,
Que tinham outros filhos em diversos cais,
A história se fazia, corrida diária,
Aquela sobrevida na zona portuária.
Branca de Neve,
Cinza de Fuligem,
Na Floresta de Concreto
Resistiu à sua origem.
Foi adotada por uma bruxa,
Acorrentada no porão pela madrasta,
Era espancada, levou muita bucha,
Se viu acurralada e deu uma basta.
Fugiu numa noite gélida,
Logo caiu nas poções encantadas,
Não imaginou as ruas tão violentas,
Mais uma usuária viciada.
- Branca me deve sete prestações,
Em notas trocadas e sem marcações.
Para pagar o sujo cafetão,
Foi enviada ao Castelo da Morte,
Forçada a entrar nessa perdição,
Prostíbulo de luxo na zona norte.
A sorte azarada estava lançada,
E a Branca de Neve
Caiu num sono profundo,
À facção foi incorporada,
Regada à crack num antro imundo.
Branca de Neve,
Cinza de Fuligem,
Na Floresta de Concreto
Resistiu à sua origem.
A pobre menina carente,
Viveria infeliz para sempre,
Se não fosse por um nobre alfaiate,
Que achara um sapato de cristal.
Garimpou por toda parte,
Imaginando uma beleza colossal.
Ele não fomentou sua longa empreitada,
Mas trombou com Branquinha,
Numa noite estrelada.
Entre o castelo e o mirante,
Um conto triste teve
Um desfecho brilhante.
Mesmo depois de tanta tristeza,
Ela encontrou um Príncipe
Que a chamou de Princesa.
Branca de Neve,
Cinza de Fuligem,
Na Floresta de Concreto
Finais felizes também existem.