Depois que cê cresceu,
Quantos planos não adormeceu?
Sem conseguir pensar que o mundo é seu.
Quantas crenças cê perdeu?
Respira, mas pensa se ainda há vida.
Gastando o fôlego, tentando encontrar saídas.
Soluções, de broncas e contas.
Segura as pontas, mas se pergunta até quando.
Daí a nostalgia vem, com força total, e cê se lembra,
De quando ainda era criança.
E enxergava com outros olhos.
Lembra, que já sabia que a maldade existia.
Mas achava que ela nunca te atingiria.
Mas via, tudo mudar conforme cê crescia.
E lembra que o tempo já não corria tão lento, e que os ventos,
Levaram algo mais do que as pipas.
A inocência foi perdida, alma rendida.
Hoje, a tua fábrica de sonhos se encontra falida.
Viu que a teoria tá longe da prática, e o que te ensinaram quando menor,
Já não se aplica a quase nada.
Teu mundo de fantasia, se dissipou.
A medida que a dor da realidade se disseminou.
E cê nem vê mais do que capta a retina.
Finge tá bem quando tá mal, e se tá mal, cê já nem liga.
Cê já nem briga pra ter expectativa, só reza, pedindo que a morte seja amiga.
Cansado de colecionar frustrações e mágoas,
Tão poucas vitórias e tantas derrotas amargas...
Da casa pro trampo, do trampo pra casa.
Preso nessa terra como um anjo sem asas.
E foi difícil descobrir que há heróis de menos, e vilões de mais,
E recorda que era diferente anos atrás.
Quando cê era um deles.
Agora sem super-poderes, lamenta por não poder voltar mais.
E sente saudade daquele mundo que cê criou.
Saudade de quando te bastava imaginação.
Saudade de quando outras notas que tinham valor.
De quando tua responsabilidade era diversão.
E quanto mais os ponteiros avançam, mais saudade se sente.
E as areias da ampulheta se vão.
Caindo de grão em grão.
E você se sente incapaz, cercado pelo pecado, clamando por algo mais.
E bebidas, já não saciam tua sede.
E mulheres, já não saciam tua fome.
E o brilho do ouro, não mais te ofusca.
E perdido se olha no espelho, mas,
Sem saber o que busca.
Menos malícia, ou mais sagacidade.
Menos mentira, ou uma fuga da realidade.
E cheio de incerteza, encara seu próprio reflexo.
E só então percebe, que a imagem nada reflete, além do físico.
Vazio por dentro.
Imóvel.
Vê como um filme todas as histórias, reais e ilusórias,
Cada fracasso e glória, em segundos num flash nítido arquivado na memória.
Com uma riqueza de detalhes surpreendente.
Relembrando tudo isso, respira profundamente.
Desejando ser criança novamente.
Sentindo um imenso pesar em já não ser tão inocente.