Eu tenho alma das antigas carreteadas
Sorvendo léguas de estradas no tranco lerdo do boi
Vivência rude, semeadeira de querência
Que por rangir existência insiste que não se foi
Eu tenho alma de bagual de queixo atado
Bem cozido e despachado na doma tradicional
Serviço bruto, de paciência e fundamento
Quando arrocha sentimento junto ao tento do bocal
Eu tenho alma de rodeio bem parado
Quando mangueira trançado subia cortando rastro
E o peão campeiro se escondendo na presilha
Recomendava a tordilha que vinha embaixo dos bastos
Talvez por isso eu seja um pouco intransigente
Com essas coisas diferentes, com essa mania do novo
Pois não me esqueço de buscar a evolução
Sustentando a tradição e a cultura do meu povo
Eu tenho alma de bailongo de candeeiro
Quando só gaita e pandeiro faziam festa grongueira
E a madrugada se luzia querendona
Admirando a Sia Dona com olhos de lua inteira
Eu tenho alma de fumaça de braseiro
De cerração e palheiro perfumado à figueirilha
Do galpão tosco, pau a pique bem quinchado
Do mate amargo jujado com carqueja ou maçanilha
Eu tenho alma de um domingo de carreira
Cancha reta na fronteira, sombra de rancho e ramada
Lá donde a tava bem ferrada se floreia
Pra viajar na volta e meia campeando suerte clavada