Tem dias em que a saudade apeia à frente do rancho
Boleia a perna, alcança a rédea, desencilha o baio ruano.
Puxa a prosa e sem convite se achega à beira do fogo,
Querendo saber de tudo, querendo mudar os planos.
Pergunta dos meus silêncios, faz rebrotar meus anseios,
Instiga um verso calado, traz inquietudes no olhar.
Desorienta meu rumo, põe labirinto aos meus passos,
E por saber dos meus rastros, não deixa o tempo passar...
Quando a saudade se achega a cabrestear meus recuerdos,
Repassa cada lembrança com cismas de confidente.
Conhece todos os medos que eu conservo silente,
Pois sabe tudo o que sente meu coração em segredo...
Pouco interessa à saudade, o que meus olhos procuram,
Possui vontades alheias às minhas tão diferentes...
Percebe a força que tem pelas ausências sentidas
E esquece da própria vida, gastando a vida da gente.
Atiça o fogo de novo, deixa meus olhos em brasa,
Desarruma minha casa, ralha com o tempo e comigo.
Encilha o baio, alça a perna, e pega o rumo da estrada,
E os olhos, de ver o nada, já não ofertam abrigo.