A ti, meu irmão guerreiro
Rastreador do mesmo ideal
Meu abraço fraternal
De campeiro pra campeiro
E num gesto missioneiro
Do meu velho pago em flor
Sem aval e sem fiador
Eu te afirmo, comparceiro
De que Deus é carreteiro
Peão de tropa e payador
Eu também sou campesino
Nasci ouvindo o pampeiro
E também sou carreteiro
Por ofício e por destino
Uma junta de brasinos
Charque, farinha e torresmo
Ao tranco, rodando a esmo
Por chapadas e galpões
Carreteando as tradições
Para dentro de mim mesmo
É a glória dos payadores
Guitarra ninho dos ventos
Aonde trançamos tentos
Supremo dos campeadores
E ao longo dos corredores
Do Rio Grande potreador
Sou aquele payador
Vaqueano da liberdade
Pois me sobra autoridade
Pra contestar um cantor
É a minha filosofia
E o meu modo de cantar
Pois jamais hão de calar
Minha guitarra-poesia
Sou como a pampa bravia
Manancial de claridade
E a ti, só na imensidade
Num mastro desta payada
Deixo uma bandeira hasteada
E um peçuelo de amizade
Assim, pastor do hemisfério
Dourando o teu dia-a-dia
Leva contigo a magia
Que ronda sonho e mistério
E neste porte de gaudério
Que para nós vale tanto
Guarda, meu irmão, o encanto
Do espírito ancestral
E a inteireza vertical
Das raízes do meu canto