Canta a cigarra agarrada na forquilha
Da grama seca (que a geada queimou no agosto)
Prece de campo no romper da noite grande
De uma coruja a me espiar mateando ao posto!
Quem é do campo sabe bem das suas penas
(Na sina bruta de lidar com a criação)
E das saudades que hibernam dentro d’alma
Que afloram quando a lua aponta no capão!
No altar da pampa a natureza reza um terço
Na madrugada clara de estrela e lua
Serenas horas em que arreglo um mate novo
Pra uma milonga falar das minhas mágoas cruas!
Assim guapeio, sol a sol, aqui na estância
Aquebrantando o rigor pra o meu sustento
Pois quem tem a alma aquecida por braseiros
Agüenta firme o trompaço do mal tempo!
Mas rogo à Deus pra cuidar desta querência
Num canto xucro, acolherado na guitarra
Que a primavera traga o verde às campinas
E que não cale o contraponto das cigarras!
Talvez por isso esses cantos são mui tristes
E tão sonoros quando o breu estende os braços
Cantando as dores de um inverno fronteiriço
Ou as saudades nostalgiando este regaço!