Kiko Goulart - Aldo D'antes Тексты

Justo hoje que me escondo
Numa vilinha simplória
E gasto os dias compondo
Algo com minhas memórias...

Estranho que essas lembranças
- Anteriores, primitivas -
Dos meus tempos de criança
Estejam tão, mas tão vivas!

O casebre macharrão
Onde afinal vim ao mundo
Fora encravado nos fundo
Do são gregório, rincão.
Espécie de construção
Comum naqueles confins:
Tijolo, barro, capim,
Barro, capim e tijolo...
Meu universo crioulo,
Ternura sem par nem fim.

Certo espaço dividia
A morada do galpão,
Entre eles cinamão...
Três ou quatro na quantia;
Palco para as fantasias
Todas de quem numa hora
Arrocinava vassouras
Dos pêlos mais variados
E n’outras tropeava gado
De osso terreiro à fora!

La pucha! Quanta enxurrada
Roncando e fazendo carga
Cambiou a força d’água
Meus ossitos de invernada;
Depois da chuva passada,
De marca talha à cintura,
Ia contar na planura
Do velho pátio embarrado
Os presos contra o alambrado
De galho e fios de costura.

Nem tão distante dali...
Vinte metros, coisa pouca!
A sanga de lavar roupa
E de pescar lambari.
De tanto andar por ali,
Descalço pelo varzedo,
Atrás de arte... Brinquedo
É que deixei minha’alma
Encardida como a palma
Dos pé e os vão dos dedo.

Além de pedra e sereno
Há um algo que não vemos,
Mas que existe, sabemos,
Cobrindo o plano terreno.
Esse algo, não por menos,
Foi que acabou me’enredando.
Sem saber como nem quando
Mandei-me’embora do pago.
Ilusão, pois sempre acabo
Ao escrever retornando!

Dizer que cantar o pago
Goela aberta, no meu caso,
Tenha sido por acaso
Parece-me um pouco vago!
Desde cedo me embriago
Desses simples elementos...
Choro de rio, voz de vento,
Cheiro de fruta madura;
Poder de enxergar lonjuras
Olhando apenas pra dentro!
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