Um moço ficou doente, logo após o casamento
E só se salvaria se operasse com urgência
Mas perderia as vistas e ele decidido
Preferiu ficar cego mas salvar a existência
E pediu para a esposa que ficasse em sua frente
No derradeiro instante que perdesse a visão
Para ficar gravada na eterna noite escura
A imagem da esposa na sua imaginação.
Ele foi operado e ao passar quarenta anos
Ainda ele guardava na memória aquele instante
E dentro da cegueira jamais imaginava
Que a esposa já não era mais bonita como antes
Um dia de joelhos os dois fizeram uma promessa
Pra que deus lhe deixasse ver de novo a luz do dia
E deu-se um milagre ali naquele instante
Em frente a imagem santa os seus olhos se abriam.
Ele que há tantos anos viveu sem a luz dos olhos
Esqueceu que em tudo a mão do tempo dá um fim
Suas garras traiçoeiras destróem sem piedade
A rosa que foi ontem a mais bonita do jardim
Julgando que a esposa fosse linda como outrora
Virou-se pra beijá-la mas porém que desengano
Ali em sua frente viu uma pobre velhinha
Era sua velha esposa destruída pelos anos
Pensou fugir na hora mas ao levantar o rosto
Viu dentro de um espelho a cruel realidade
Seu rosto também velho era o espelho do tempo
Mostrando para ele o caminho da verdade
E abraçando-se a ela soluçando arrependido
Como se ele tivesse de um sono despertado
Jurou seguir com ela a estrada da velhice
Deixando a mocidade para sempre no passado.