Açucena, mulher bonita
Pele morena num vestido de chita
Toda sua riqueza leva um nome
Seu maior patrimônio se chama fome
E muitas bocas pra alimentar
Açucena, sempre serena
De rebento em rebento conta uma dezena
E na barriga carrega outra criança
Faz novena, trezena e tem esperança
Diz que a vida vai melhorar
Vive a duras penas essa pequena
Carrega o padecimento com conformação
Não maldiz a vida, não contracena
Seu alimento, seu sustento é sua oração
Açucena, mulher bonita
Nos seus sonhos, nem mais acredita
Todos eles jogados no pó da terra
Renúncia que fez em prol d’uma guerra
A peleja sobreviver
Açucena, sempre serena
Trava uma luta diária obscena
Quer deixar pros filhos a herança
De vindouros anos de abastança
Antes que venha a fenecer
Mesmo a duras penas essa pequena
Traz consigo o sonho de transformação
Labuta sua vida e não blasfema
Espera sua graça e divide seu pão