São Paulo fim do dia
Portas que se fecham
Luzes que se acendem
Mãos que se despedem
Olhares que prometem
Coisas que acontecem
Porque tem que acontecer
Gente buscando casa
Gente buscando gente
Gente buscando nada
Vejo cinco continentes
Pisando a mesma calçada
O aglomerado constante
Dessa massa que se agita
Faz ainda mais bonita minha cidade gigante
São Paulo dos doutores
São Paulo dos marginais
São Paulo dos feirantes
dos intelectuais
São Paulo das mariposas
São Paulo do operário
do camelô
do vagabundo
do society
da favela
Misturas que fazem dela
A maior terra do Mundo
São Paulo fim do dia
e a rotina continua
Gente empurrando gente
a cada palmo de rua
Aqui uma cotovelada
Mais adiante é um empurrão
Uma mulher desesperada gritando:
"Pega ladrão!"
É o farol que não abre
É a sinfonia das buzinas
É o jornaleiro que grita:
"Olha a manchete do dia
Sequestraram uma menina!"
Mais adiante uma fechada
Alguem entrou na contra-mão
E sempre que isso acontece
Pode esperar que não passa
A gente assiste de graça
o festival do palavrão
Mas essa é a hora feliz
Do regresso para o lar
Cada um mais apressado
No desejo de chegar à mansão
ao apartamento, à casinha na viela
ao barraco de zinco
pendurado na favela
O pensamento é um só:
"Chegar, chegar"
Os contrastes são berrantes
na multidão dos sozinhos
Quem não viu nao acredita
Chega até ser bonita
a demanda dos caminhos
Enquando um vai de subúrbio
Da cenrtal, da cantareira
e faz a viajem inteira
mal podendo respirar,
O outro, carro importado
A bela gata do lado
O ar condicionado
Som, champagne, caviar
Gente que vai de gálata,
de Dart, opala, corsel,
de fusca, pé-de-cabra,
lambreta bicicleta
Cada um vai do jeito que pode
Gente que vai de taxi,
onibus, lotação
Gente que vai à pé
batendo sola no chão
Não que se tenha vontade
Coisas da necessidade
De que ficou sem nenhum
Nem mesmo pra condução
Mas nada disso importa
O importante é chegar
Quando se tem na chegada
um motivo pra sorrir
Triste é andar por andar
Ver tanta gente passar
E ter que continuar
Sem ter pra onde ir.