Menino que anda na rua deserta
Deserta é sua vida,
Vida não lhe resta
Menino tu andas pelo precipício
Ninguém te acode
Fingem não lhe ver
Menino tu sabes
Tudo que lhe falta
Menino a coragem é tua irmã
Fome que desguarda,
Fome que apodrece
Que te desespera
Que impede viver
Fome que ameaça
Fome que saqueia
Fome que amendronta
De tudo que ver
É a fome da fome
Fome da esperança
Fome da criança
Que hoje quer comer
Na casa do lado
Na mesa do lado
Há comida na mesa
Na casa do lado
Da gente que vive e finge não ver
O que acontece, será que acontece?
Por causa da gente, da gente que vive
E finge por medo, por medo de que?
Medo da criança da rua deserta
Da vida deserta sem o que comer
Repartir o pão, o pão pra comer
O povo precisa de pão meu irmão
Repartir o pão, pão pra comer
O povo precisa matar essa fome
Que mora lá dentro,
Bem dentro do peito
Que muitas pessoas tentam esconder