Pra quem mora aqui nessa vila não existe amanhã, não
existe paz, não existe irmão ou irmã, só existe
revolta, que bosta, senhora implora, melhora,
resposta, não rola e agora? quem vai dar uma
assistência, pra uma familia pedindo clemência, a
sentença pra quem mora aqui na favela, é o sistema que
te explora, insita a guerra, vide Império lado sul,
aqui não é diferente de Pirituba, Guarulhos, da Cidade
Tiradentes, me entende, somos todos bastardos da nação
dos trezentos e sessenta graus de destruição, que Deus
tenha dó dos que ainda tem fé, que mantêm a sua e minha
familia em pé, eu sei que ele quer salvar o moçinho e o
bandido, o pobre e o rico, o traidor e o traido, toda
vez que acordo me sinto pronto pra batalha e pra
desgraça, ou a vitória se for conquistada, uma vida
inteira de conflito externo e interno, a incerteza do
destino é um eterno inferno, a sorte tá lançada e o
diabo já deu o preço, a bocada tá mais perto que a
agência de emprego, pra zua tem mais de cem, pra
ajudar não tem ninguém, não existe o amanhã, tô te
dando o porque
Não existe amanhã, pra quem vive nessa vila
Faça uma preçe, pra se mantêr longe dessa peste, dessa
febre, uma pá de mano iludido pelo crime, pelo cofre do
banco, pela roupa da vitrine, aí é um, dois, pra sair
pro arrebento, mais aí e depois, qual que vai ser seu
argumento? quem cresce no crime disperta o ódio dos
bico, você conhece o regime e não escapará disso, com
isso, perdemos mais um mano na armadilha, mais uma
derrota na luta da vida, toda paz desse mundo se
sacrifica, no ataque, revolta, corra atráz do futuro,
a auto-estima não bate na porta, a única certeza que
nós temos é da morte, o resto precisa ser conquistado,
tem que ser forte, sorte, lágrimas, suor e sangue, a
luta que é diaria e bem pior que antes, não existe
amanhã, assim pôs o sistema, vivo cada dia como se
fosse o último nesse planeta, domando o desespero,
correndo contra o tempo, quem adía a própria morte
também é um herói do gueto
Não existe amanhã, pra quem vive nessa vila
A minha alma tá armada e apontada para cara do
sossego, dismascarar a farsa tras a calma ao seu
tormento, o gueto vive, sobrevive a cada provação, meu
povo é forte, será muito mais quando tiver união, a mãe
lavadeira, o pai carpinteiro, a filha desempregada e um
filho detento e mais dois pequenos é só um exemplo e
não é o pior, em prol do dinheiro mano se reduz ao pó
e pelo pó, pela pedra, pelo álcool em excesso, uma
escola por vila, em cada esquina um boteco, é só uma
das armadilha que todo dia o mano cai, sem justiça,
sem paz, troxa aqui não encontra mais, onde tão meus
manos? que rumo tão tomando? caminho longo, estranho,
bole outro plano, me explique melhor onde você quer
ficar, do lado dos mortos, ou dos que vivem mais? não
espere por político, milagre de pastor, baú da
felicidade ou ajuda de doutor, a força de vontade tem
que vir de você mesmo, esse é o combate, conseguir sem
perder tempo, milhares de pessoas morrem todo ano, na
maioria pobres sem estudo ou trampo, faça sua vida,
controle sua história, se vai haver ou não amanhã cabe
a você a resposta
Não existe amanhã, pra quem vive nessa vila
Aí soldado, não deixe ninguém destruir a sua vida,
encontre uma razão pra viver, tire o ódio do seu
coração, proteja seu filho, saiba perdoar, ganhe
dinheiro mas não deixe o dinheiro te ganhar, seja
verdadeiro consigo mesmo ladrão, que Deus ilumine meus
primos e minhas primas, os virá revolucionários